
Padre Júlio Lancellotti e um grupo de irmãos e irmãs da Casa de Oração do Povo de Rua estiveram presentes na manhã desta segunda-feira, dia 13, no Teatro TUCA, para partilharem reflexões sobre a Campanha da Fraternidade (CF) deste ano, cujo tema é Fraternidade e Vida - Dom e compromisso.
Tendo em mãos o texto-base da CF, o sacerdote, que também é pedagogo e monsenhor, destacou as principais divergências que transitam entre a teoria e a prática proposta pela Campanha e pelo seu lema: “Viu, sentiu compaixão e cuidou dele” (Lc 10,33-34).
Ao encontro desta síntese, relembrou a história de vida da Irmã Dulce, que verdadeiramente enxergou, se compadeceu e cuidou do outro, apesar de todos os conflitos que teve que enfrentar.
Para Pe. Júlio uma coisa é certa: “A compaixão é conflitiva. Passa pelo conflito. Passa por situações desafiadoras. E nós, ainda temos muito medo do conflito”.
Defensor da vida humana e dos direitos da população que vive em situação de rua, Pe. Júlio convidou a todos a refletirem profundamente sobre o significado da Campanha, sobretudo, nas dimensões: pessoal, comunitária e social. Voltando o olhar de todos à população de rua.
“Tem gente que olha para o irmão em situação de rua e fica assustado e com medo”. Por conviver com essa realidade há 40 anos, seu desejo não poderia ser outro: “Eu espero que essa palavra da Campanha da Fraternidade nos cause um impacto, nos cause uma mudança”.
Mesmo esperançoso, lamentou o fato do documento não mencionar a homofobia, “transfobia” e “LGBTfobia”.
“Embora cite questões que são fundamentais na nossa conjuntura de hoje - feminicídio, desigualdade, questão agrária e questão indígena - o texto-base não conseguiu chegar na homofobia.”
Para aprofundar a questão, Pe. Júlio passou a palavra à Verônica, uma mulher transsexual, que há um ano participa na Casa de Oração do Povo de Rua, e na sequência, à Michel, que vive em situação de rua há 20 anos. Ambos representam a comunidade LGBTQ+ da rua.

“O Brasil está em primeiro lugar no ranking mundial que mais mata LGBTQ+. Somos todos cidadãos e cidadãs deste país. Então nós também queremos nosso espaço. E nosso direito respeitado. Como cada um de vocês que está aqui hoje”, desabafou Verônica.
“Quando eu falei para o Senhor [Pe. Júlio] sobre abraço, não é só esse abraço [físico] que desejo que a sociedade dê na gente. Mas, um abraço de um olhar. Que possa nos dizer: O senhor precisa de quê? De comida? De um abraço? De um trabalho?”, esclareceu Michel.
O que é compaixão neste momento?
“A compaixão é uma ação divina que nos humaniza”, sintetizou Pe. Júlio. E defendeu que a CF nos propõe a olhar com mais atenção para a vida e a sociedade, que neste momento, está permeada por uma estrutura social desumanizadora.

“Não há nenhuma maneira de ajudar o povo em situação de rua, sem conviver com eles”. E, sem rodeios, ele adverte: “Se você não é capaz de olhar para a pessoa, não aprende a conviver”.
Mesmo lembrando que a convivência é desafiadora e que nela acontecem embates e descobertas, Pe. Júlio persiste que não se pode ser Igreja, se não estiver ao lado daqueles que a sociedade rejeita. E não basta ver. Tem que se compadecer, ter compaixão, e cuidar.
“Temos que ser capazes de olhar para os rostos de nossos irmãos e irmãs que estão desfigurados pelo sofrimento”. De acordo com Pe. Júlio, esse é o caminho para não se tornar opressor e exercer a compaixão.
Equipe de Comunicação
Ira Romão